Os Vedas, o começo de tudo

Os Vedas são o conjunto de “conhecimento” mais antigo da humanidade, cujo conteúdo foi “revelado” pelo Criador diretamente aos Rishis, seres humanos de elevado desenvolvimento espiritual e intelectual, originários dos povos Aryanos que habitavam a região do Himalaia milhares de anos antes da era cristã.
Um tempo depois, este conhecimento que era transmitido oralmente, foi transcrito pelo Rishi Veda Vyasa dando origem aos 4 compêndios cujo formato conhecemos hoje em dia: Rig Veda, Sama Veda, Atharva Veda e Yajur Veda.
Após esta primeira compilação, vários outros textos foram escritos e “anexados” aos Vedas visando ampliar o entendimento daqueles cujo conteúdo original é complexo e praticamente composto de rituais, hinos, preces e algumas pinceladas filosóficas sobre diferentes temas.
O inestimado valor dos Vedas deve-se a afirmação que o conhecimento contido neles se aplicados corretamente levaria o homem a uma existência de prosperidade e a integração total com o Criador.
Nos Vedas é mencionada a existência de um Ser Uno (Ekam Sat) e a sua manifestação nos fenômenos e elementos da natureza, justificando que tanto o ambiente quanto o interior dos seres vivos é formado dos mesmos elementos.
Recomenda-se que os Vedas não sejam lidos diretamente, pois são de difícil interpretação - para conhecer o seu teor, recomenda-se começar os estudos e leituras pelos textos posteriores que os interpretam e traduzem em linguagem mais acessível.

Upanishads

Este conteúdo foi escrito entre os séculos X a VII a.C e são compostos de textos na forma de diálogos ou ensinamentos diretos sobre a filosofia implícita aos Vedas.
São textos na forma de diálogos ou ensinamentos diretos sobre a filosofia implícita aos Vedas.
Nestes textos são feitas as primeiras menções a conceitos como o karma e os objetivos da existência os Purusharta: as obrigações morais (Dharma), a prosperidade material (Artha) , o desfrute dos sentidos (Kama) e a libertação espiritual (Moksha), sendo este último o principal objetivo da existência mundana.
Os Purananas fazem parte deste conjunto de obras, porém, seguem um estilo de escrita diferente, sendo apresentados no formato de narrativas mitológicas e parábolas.

Darshans

Os Shad-Darshans são diferentes interpretações sobre os Vedas surgidas entre os séculos VI a.C. a VII d.C)
Os Darshans podem ser considerados “escolas de pensamento” que explicam a “realidade” contida nos Vedas a partir da observação dos fatos, interpretando-os sob diferentes perspectivas.
Os Darshans não são interdependentes, mas muitas vezes complementares e não excludentes.
Quando comparamos com as linhas de estudo tradicionais contemporâneas (logos), fica mais fácil compreender as diferenças, conforme indicado entre parênteses entre aspas, após o nome de cada escola:

Mimamsa (“Litúrgica”): focada na relação entre as causas e consequências das ações humanas, entre causa e efeito, Jaimini e Kumarila são os autores mais destacados.

Vedanta (“Teológica”): tem como pilar central a aceitação do Ser Absoluto, criador do Universo, o conhecido e o desconhecido. Os textos de Badaryana e Sankara são considerados os principais, mas existem várias correntes, inclusive mais recentes.

Nyaya (“Lógica e Epistemológica”): o conhecimento e a análise corretos devem prevalecer para eliminar o sofrimento, escrito por Aksapada Gautama e Ganesha.

Vaiseshika (“Cosmológica”): considerada complementar a Nyaya, com mais ênfase no conhecimento do Universo e seus ingredientes básicos, escrita por Kanada.

Samhkya (“Cosmogonia/Enumeração”): classifica 25 princípios básicos da natureza que se combinam entre si e dão origem a toda manifestação.
Os dois aspectos principais existentes são a consciência/espírito (Purusha) e a natureza material (Prarkrit), seu autor foi Kapila.
*E a mais antiga de todas as escolas e base essencial para o desenvolvimento dos textos do Ayurveda e o Baghavad Gita.

Yoga (“Psicológica”): apresenta um conjunto de técnicas para promover a transformação do praticante e sua liberação espiritual, acrescentando diversos componentes ao Samkhya.
A obra como sistema de pensamento (Darshan) refere-se a Yoga melhor detalhado no Yoga Sutra de Patanjali.
É muito comum a confusão com os vários significados da palavra Yoga.

Ayurveda

É o sistema integral de cuidados de saúde mais antigo da humanidade que surgiu na era Védica (2.000 a. C.) e ao longo dos anos foi aperfeiçoado pela prática e observação (especialmente da escola Samkhya).
O Ayurveda foi normatizado por diversos autores com diferentes enfoques (Caraka, Sushruta, Vagabatha) resultando em um rico registro de protocolos de tratamentos, cirurgias e fórmulas medicinais.
Estes protocolos e fórmulas são utilizados para tratar doenças e desequilíbrios de saúde física e mental diversos e se mostram extremamente eficazes até os dias atuais.
Segundo um dos textos clássicos do Ayurveda:

Vedanta

O Vedanta pode ser considerado uma das mais universais filosofias do mundo pois afirma a unidade da existência, a divindade da alma humana e a harmonia de toda prática religiosa independente de cultura, raça ou nacionalidade. Vedanta é resultante da convergência de 3 aspectos dos Vedas: as experiências místicas dos sábios - os Upanishads, as verdades universais sagradas aceitas e praticadas pelo homem em qualquer época e contexto – a moralidade em si - e o pensamento filosófico/religioso sistematizado, os Brahma Sutras.
A unidade de existência é um dos grandes temas do Vedanta e um pilar essencial da sua teoria que incentiva uma abordagem também científica e racional da religião.

Yoga e Patanjali

O Yoga sistematizado por Patanjali complementa a teoria Samkhya e enfatiza a importância e maior relevância das práticas de controle internas em detrimento das corporais.
No ocidente, a popularidade das posturas físicas (Asana) construiu uma imagem distorcida do verdadeiro significado e objetivo do Yoga.
São considerados textos clássicos do Yoga: Goraksha-Sataka (sec. XI), Shiva Samhita (sec. XV), Gheranda-Samhita (sec. XVII), Yoga Upanishads (sec. XVIII), Hatha Yoga Pradipika (sec. XIII - uma das mais respeitadas) e os Sutras de Patanjali (sec. II d. C.)

O Yoga Sutra de Patanjali é dividido em 4 partes e na segunda parte são apresentados os “8 membros” (ASH=8, TANGA=membros) da teoria. Os 8 “braços” do Yoga, contemplam os níveis ético, psíco-físico e psíco-espiritual do ser humano.
O termo “membro” é o mais adequado para tradução, pois pressupõe que são interdependentes e atuam ao mesmo tempo para levar o “ser” ao objetivo maior, sendo eles:

Yamas: (“Proibições”) Auto restrições que devem ser praticadas para manter-se bem e não criar perturbações para as pessoas e o ambiente ao redor:
- Não violência (Ahimsa) – não produzir ofensa a nenhum ser vivo seja no corpo ou na mente daquele ou de sí mesmo;
- Praticar a Verdade (Satya) pela fala, pensamentos e sentimentos ponderando os demais Yamas e Nyamas;
- Não desejar o que não lhe pertence (Asteya);
- Fazer uso adequado da sexualidade (Bramahcharya);
- Não se apegar (Aparigraha) nem acumular para sí o que não é útil ou excessivo;

Nyamas: (“Obrigações”) Auto restrições que devem ser praticadas para manter-se bem consigo mesmo:
- Pureza (Sauca) e limpeza em todos os níveis: físico, mental, emocional e espiritual;
- Contentamento (Samtosha) e devido reconhecimmento do valor do que se possui e o rodeia;
- Austeridade (Tapas) e disciplina para cumprir com determinação os propósitos;
- Auto Observação (Svadhyaya) e atitude interna de busca contínua por aprendizado;
- Rendição ao Criador (Isvahapranidhana) e devoção a Ele.

Asana: posturas físicas estáveis e confortáveis que favorecem a tranquilidade da mente.

Pranayama: técnicas respiratórias que auxiliam no controle da mente através da entrada e saída de ar do corpo, cujo ritmo tem relação direta com o fluxo e velocidade dos pensamentos.

Pratyahara: libertação dos sentidos do domínio exercido pelos estímulos exteriores a eles que interferem na mente.

Dharana: exercício de atenção e concentração para aprimorar a capacidade de foco da mente.

Dhyana: concentração apurada e controle da consciência – a meditação propriamente dita.

Samadhi: estado de iluminação e integração à consciência Universal além do instinto e da razão. “Comunhão absoluta com o Criador”.

créditos: Prof. Dr. Roberto de Andrade Martins / Centro de Estudos Sri Yoga-Devi